A reabertura gradual das lojas e serviços na Alemanha só aconteceu depois de um longo e rígido período de isolamento e foi acompanhada de medidas detalhadas de segurança para minimizar a chance de novos surtos de covid-19. Novas regras: clientes e cabeleireiros precisam usar máscaras
Getty Images via BBC
No início de maio, depois de quase três meses de uma rígida quarentena, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, anunciou a flexibilização das medidas de isolamento para conter a Covid-19 no país.
O país está em um estágio mais avançado que o Brasil na epidemia do coronavírus, com o dia 1 da epidemia (o primeiro dia a ter mais de 50 casos, de acordo com critérios epidemiológicos internacionais) por lá sendo considerado o dia 1º de março. As medidas de isolamento por lá começaram no início de março, com o “lockdown” (fechamento total de tudo o que não é considerado essencial) começando em 23 de março.
No Brasil, o dia 1 da epidemia é considerado o dia 17 de março e, apesar de medidas de isolamentos terem sido colocadas em prática nos Estados, o país não teve até agora um “fechamento total” nacional.
Diferentemente do Brasil, que ainda não atingiu o pico de contágio, a Alemanha já passou pelo pico e conseguiu “achatar a curva” da transmissão e diminuir a disseminação da doença.
O número de novos casos no país caiu de de 6.294 em 28 de março para 947 no dia 6 de março, quando Merkel anunciou a flexibilização.
O país vem adotando uma estratégia de flexibilização baseada em um monitoramento detalhado do contágio, com cerca de 350 mil testes sendo feitos por semana. Além disso, a flexibilização das regras é condicional: caso a taxa de transmissão volte a crescer, o país pode voltar a endurecer a quarentena, segundo as regras criadas para a abertura.
Entre as medidas que fazem parte da flexibilização, está a reabertura dos salões de beleza, que por lá não foram considerados serviço essencial (como determinado no Brasil por decreto do presidente Jair Bolsonaro) e ficaram fechados durante todo o período de isolamento.
A “reabertura” gradual das lojas e serviços na Alemanha foi acompanhada de medidas detalhadas de segurança para minimizar a chance de contágio no ambiente fechado dos estabelecimentos e evitar novos surtos de Covid-19.
Entenda como tem sido a reabertura dos salões no país e no resto da Europa.
Ambiente espartano
Sem área de espera, sem revistas, sem cortes a seco. Máscaras para o cliente e para o cabeleireiro.
Agora, os salões na Alemanha podem abrir pela primeira vez desde o início do isolamento social, em 23 de março, mas a rotina não está sendo a mesma.
As regras determinadas pelo Ministério da Economia e da Assistência Social também exigem uma distância mínima de 1,5 m entre os clientes e desencorajam a secagem do cabelo.
As luvas devem ser usadas até que o cabelo do cliente seja lavado, mas podem ser removidas para o corte em si.
E a famosa fofoca de salão? Também é proibida — sem conversa cara a cara, dizem as regras. Qualquer comunicação sobre o serviço deve ser limitada ao mínimo.
Os órgãos reguladores dizem que as regras são necessárias porque, por sua natureza, o corte de cabelo é uma atividade que exige certa intimidade. O cabeleireiro tem um contato muito mais próximo com os clientes do que uma loja, por exemplo.
Os salões também precisam registrar os nomes de seus clientes para que o rastreamento de infecções possa ocorrer, se necessário.
Em toda a Europa, os cabeleireiros estão entre as primeiras empresas autorizadas a reabrir quando as restrições de bloqueio foram atenuadas.
Na Espanha, os salões de cabeleireiro também reabriram em 4 de maio, mas devem funcionar no máximo em 30% da capacidade normal e somente com hora marcada.
Quando a reabertura de salões foi anunciada na Dinamarca, em 17 de abril, um dos maiores sistemas de reservas online entrou em colapso, o que um jornal atribuiu ao alto volume de cidadãos desesperados por um corte.
Aguardando orientações
Alison Badrick é uma cabeleireira autônoma em Buckinghamshire, na Inglaterra, e ainda aguarda orientação do governo do Reino Unido sobre como será sua volta ao trabalho. Ela teme que ainda possa demorar algum tempo.
Ela diz que a maioria das regras parecem sensatas, mas são difíceis de seguir, principalmente a que determina cortar o cabelo de um cliente enquanto usa uma máscara no rosto.
O elástico da máscara atrapalha o corte de camadas e do cabelo próximo às orelhas, diz ela.
“A menos que produzam uma máscara que grude no rosto, não sei como isso vai funcionar”, afirma.
Na Alemanha, o chefe da Associação de Cabeleireiros disse ao programa de TV Tagesschau que os clientes poderiam soltar brevemente a máscara de seus ouvidos e segurá-la sobre a boca.
As regras de distanciamento social significam que os salões no Reino Unido não podem atender tantos clientes por hora — o grupo de cabeleireiros de Londres Blue Tit estima que suas lojas estarão trabalhando com 50% de sua capacidade normal.
A empresa planeja deixar uma folga na agenda de 15 minutos extras após cada cliente para permitir uma limpeza completa do salão e espera aumentar o horário de funcionamento e dividir a equipe em dois turnos.
Quaisquer que sejam as novas medidas introduzidas pelo governo britânico quando chegar a hora, parece evidente que os custos vão aumentar.
“Teremos mais custos com tempos de agendamento mais longos, além do custo de equipamentos de proteção individual (EPI), mas a segurança de nossos clientes e funcionários é a prioridade aqui”, explica a Blue Tit.
‘A vaidade supera o medo’
Como estão os cabelos da maioria das pessoas no momento?
“Muito engraçados. Muitas pessoas cortaram seus próprios cabelos. Algumas pintaram elas mesmas. Estamos trabalhando principalmente em ‘consertar’ penteados agora”, diz, rindo, Reno Harms, co-proprietário do salão de cabeleireiro Harms, no arborizado bairro de Prenzlauer Berg, em Berlim.
Durante o fechamento de seis semanas, seus clientes regulares compraram cupons para serem resgatados mais tarde — algo que muitos berlinenses estão fazendo para ajudar suas lojas, cafés e restaurantes locais favoritos. Isso representou cerca de 50% da receita usual de Reno e ajudou os negócios a sobreviverem.
Mas isso também significa que Reno está trabalhando gratuitamente agora, pois as pessoas estão resgatando os vale-compras. As novas regras significam que ele pode receber apenas metade do número habitual de clientes. Tudo precisa ser desinfetado entre os clientes e existem regras estritas de distanciamento social.
Certamente não há falta de negócios. Em muitos salões de Berlim, pode ser difícil conseguir um horário. Nas semanas que antecederam o bloqueio em março, cerca de metade de seus clientes havia cancelado por medo de serem infectados pelo coronavírus. Reno tem a impressão de que as pessoas continuam ansiosas. Mas elas ainda estão pedindo para marcar um horário.
“A vaidade é definitivamente maior que o medo”, brinca.
*colaborou Damien McGuinness, da BBC News em Berlim
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