Segundo o Instituto Unibanco, países adotaram estratégias como redução do conteúdo cobrado na prova, alterações no calendário ou criação de versões on-line dos testes. Enem abre inscrições
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Um levantamento do Instituto Unibanco analisou 18 países e mostrou que apenas dois deles mantiveram a data e o conteúdo de suas provas nacionais de seleção para universidades. São avaliações equivalentes ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), cujo calendário está mantido, mesmo com a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2).
Entre as mudanças aplicadas por países como França, Rússia e Gana, estão:
adiamento das provas;
cancelamento dos testes;
redução do conteúdo cobrado;
substituição da versão escrita por uma on-line, à distância.
Estudantes e instituições de ensino pediram, no Brasil, o adiamento do Enem, que será aplicado em novembro. No Rio de Janeiro, por exemplo, onze universidades públicas e colégios federais assinaram um documento que associa a manutenção do cronograma inicial à ampliação das desigualdades.
Os signatários alegam que o ensino remoto, adotado devido ao fechamento das escolas, não está disponível para todos os candidatos. “Milhões de estudantes não têm acesso à tecnologia ou à internet, o que impede ações pedagógicas similares ao cotidiano escolar”, afirma o documento. Eles estariam em desvantagem, portanto, no preparo para o Enem.
MEC mantém as provas para novembro e abre inscrições para o Enem
Segundo o estudo do Instituto Unibanco, na amostra analisada, somente a Alemanha e o Japão não fizeram mudanças – os outros 16 países adaptaram os calendários ou o conteúdo das provas de seleção.
No Chile, por exemplo, as chamadas “pruebas de transición”, aplicadas no fim do ano, vão abordar somente temas considerados essenciais para a última etapa do ensino médio. As provas de linguagem, de matemática e de história cobrarão menos assuntos dos alunos, em relação a anos anteriores.
No Egito, as questões do exame nacional só incluirão conteúdos ensinados antes do fechamento das escolas.
Diferenças entre os países analisados
Segundo Ricardo Henriques, superintendente executivo do Instituto Unibanco, o levantamento considerou países com mais casos de Covid-19; participantes do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), avaliação mundial com provas de leitura, matemática, ciências e educação financeira; integrantes do Brics, grupo de economias emergentes; e/ou localizados na América Latina.
“Foram selecionados também alguns países que não estão em nenhum desses grupos, como Gana, que, apesar de todos os desafios educacionais de lá, optou por cancelar a avaliação”, afirma.
Henriques ressalta que algumas diferenças sociais, econômicas e territoriais entre os países incluídos no levantamento devem ser consideradas. “Colocar de pé uma prova como o Enem, feita no mesmo dia em diferentes lugares em um país continental, é uma empreitada muito maior”, afirma.
“Temos desigualdades brutais, e, em situações normais, alunos já teriam acesso desigual às oportunidades educacionais. Com a pandemia, isso se agrava. A situação no Brasil é ainda mais complexa, o que fortalece a necessidade de adiamento do exame”, diz o superintendente.
Outro ponto a ser considerado é a diferença do calendário escolar. Em países do hemisfério norte, o ano letivo começa no segundo semestre – ou seja, a pandemia paralisou as atividades educacionais na etapa final de cada ciclo. Os exames de seleção para a universidade ocorrem, em geral, entre maio e julho.
Já no Brasil, a crise provocou a suspensão das aulas no início do ano letivo. E o Enem está marcado para uma data mais distante, em novembro. Mesmo assim, Henriques considera que o exame deve ser adiado.
“A depender do tempo de paralisação das aulas, o prejuízo aqui também vai ser grande. O que fica claro, na análise do levantamento, é que todos os países, com maior ou menor grau de mudança, se adaptaram à crise, seja transferindo as datas, seja modificando o conteúdo cobrado no exame”, diz.
Abaixo, veja as medidas tomadas por cada país analisado no estudo:
Mantiveram a data, sem alterações no conteúdo ou no formato da prova
Alemanha: O Abitur, exame aplicado no fim do ensino médio e necessário para o ingresso na universidade, ocorrerá nas datas previstas originalmente, entre março e junho. Os locais de prova deverão tomar as medidas adequadas para minimizar os riscos de infecção.
Dados do dia 11 de maio mostram que a Alemanha é o sétimo país com mais casos confirmados no mundo. São mais de 7 mil mortos. O país busca uma retomada de atividades, com reabertura de escolas, mas o índice de infecção voltou a subir.
Japão: A primeira fase de seleção para universidades ocorreu em janeiro. A segunda depende de cada universidade – algumas instituições cancelaram seus exames específicos e utilizaram apenas a nota da etapa anterior. Outras aplicaram a prova, tomando cuidados de higiene. Para a seleção de 2021, o governo ainda discute o calendário.
Mantiveram a data, mas com alterações no conteúdo ou no formato da prova
Chile: Conforme mencionado acima, o governo determinou que as “pruebas de transición” abordem apenas temas essenciais para o último ano do ensino médio. As alterações nos conteúdos cobrados só afetarão as perguntas de linguagem, matemática e história. Nas provas de ciências, os temas sempre se restringem ao que foi ensinado até o segundo ano do ensino médio – portanto, não sofrerão mudanças.
Egito: os exames que determinam se os alunos de ensino médio podem se inscrever para universidades não foi adiado, mas será aplicado on-line, levando em conta apenas os conteúdos ensinados antes do fechamento das escolas.
Adiaram ou adaptaram as provas
China: O Gaokao, considerado o maior vestibular do mundo, foi adiado por um mês e ocorrerá em julho. Segundo o governo, os locais mais atingidos pela pandemia, como a província de Hubei, podem propor outras mudanças no calendário.
Colômbia: No norte do país, o “Saber 11”, previsto inicialmente para março, foi adiado – ainda não há nova data definida. No sul, está previsto para agosto, mas poderá ser remarcado, dependendo do avanço da doença. As universidades que começariam o ano letivo no segundo semestre poderão adotar formas independentes de seleção, desvinculadas do exame nacional.
Espanha: A “evaluación del bachillerato para el acceso a la universidad”, equivalente ao Enem, ocorreria no início de junho, mas foi adiada por um mês. Ela terá uma versão simplificada, abordando menos conteúdos.
Estados Unidos: O cronograma da prova de nivelamento para ingressar na universidade foi modificado: ocorreria na primavera (de março a maio), mas passará para o outono (de setembro a novembro). Caso as escolas não sejam reabertas até lá, o exame será digital.
Algumas universidades não exigirão que o candidato faça o exame para participar de seus processos seletivos.
Finlândia: O “Matriculation Exam”, que determina se o aluno pode seguir para o ensino superior, foi antecipado – ocorreu em março, antes de o número de casos de Covid-19 aumentar.
França: O “Baccalauréat”, exame necessário para o acesso ao ensino superior, foi cancelado. Os alunos receberão uma nota média com base nos testes e lições de casa feitos antes da pandemia. É importante lembrar que o ano letivo francês começa no segundo semestre – ou seja, serão consideradas as notas dos alunos desde setembro/outubro de 2019.
Gana: A prova que avalia se os estudantes podem entrar no ensino superior foi suspensa. Não há nova data marcada, por enquanto.
Irlanda: O “Leaving Certificate Exam”, exame nacional de seleção para universidades, foi transferido de maio para 29 de julho.
Itália: Caso as escolas não voltem a funcionar até o dia 18 de maio, os alunos pré-universitários farão uma prova oral em plataforma digital.
Malásia: Há dois exames nacionais para os alunos do último ano do ensino médio: um deles ocorrerá no primeiro trimestre de 2021; o outro, dividido em três fases, terá a segunda fase adiada para agosto e a terceira, para o ano que vem.
Polônia: O “Maturity Exam”, previsto para maio, foi adiado para junho.
Reino Unido: Os exames de seleção foram cancelados. As notas serão calculadas com base nas avaliações feitas pelos professores e nos rankings de desempenho escolar em cada classe.
Rússia: O exame foi adiado, mas ainda não há nova data definida.
Singapura: A prova para entrar na universidade foi adiada por duas semanas e ocorrerá em junho e em julho.
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