Cerca de 200 animais serão submetidos a vasectomia e salpingectomia com o objetivo de prevenir a transmissão de febre maculosa; trabalho começou na Lagoa do Taquaral
Começou nesta quinta-feira, 26 de setembro, na Lagoa do Taquaral, a primeira etapa do manejo para controle reprodutivo das capivaras que vivem nos parques públicos de Campinas. O objetivo deste manejo reprodutivo é combater a transmissão da febre maculosa por meio da redução de nascimentos de filhotes. A doença é causada pela bactéria Rickettsia rickettsii, transmitida para as pessoas por meio da picada do carrapato-estrela, presente no ambiente e encontrado em diversos animais, inclusive nas capivaras.
Neste primeiro dia foi realizada a ceva, prática que consiste em oferecer uma alimentação controlada para animais em locais e horários específicos com objetivo de aproximá-los dos seres humanos para realizar a captura do grupo.
“O primeiro dia de manejo foi um sucesso. Nossa expectativa era de que as capivaras demorassem de dez a quinze dias para começar a pegar a ceva. Mas neste primeiro dia as capivaras já consumiram toda a ceva que nós colocamos para elas”, explica o assessor técnico do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA), Rodrigo Pires. Na ceva foi oferecida milho e cana-de-açúcar para os animais.
Por se tratar de fauna silvestre, o manejo é solicitado e submetido a análise da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), que aprovou o plano municipal.
Na primeira fase do projeto, serão esterilizadas cerca de 200 capivaras que vivem livremente no Parque Portugal (Lagoa do Taquaral). Em seguida, o trabalho será feito com as capivaras que vivem no Lago do Café, Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim e Parque das Águas.
A gestão do projeto é da Secretária do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade (Seclimas), que realizou duas licitações: uma para contratação de serviço médico veterinário cirúrgico de vasectomia e salpingectomia (laqueadura) e, outra, para prestação de serviço de ceva, captura, manejo pré e pós-cirúrgico e posterior soltura aos parques de origem.
A coordenação e fiscalização dos trabalhos está sob responsabilidade do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA).
O secretário do Clima, Meio Ambiente e Sustentabilidade (Seclimas), Rogério Menezes, lembra que este é um manejo inédito e que Campinas se tornará referência com esta iniciativa. “Foi um trabalho conjunto das secretarias do Clima, de Saúde e de Serviços Públicos com o objetivo de proteger a população e prevenir essa doença grave que é a febre maculosa. Também respeitaremos os quesitos técnicos para o manejo e para a proteção da capivara, um animal silvestre que é protegido por lei”, disse Menezes.
Centro de Manejo
As cirurgias dos grupos de capivaras do Lago do Café e do Parque Taquaral serão realizadas no centro de manejo especialmente construído para este fim na Lagoa do Taquaral. São dois recintos onde os animais passarão pelo procedimento cirúrgico e, depois, cumprirão o período de recuperação. As instalações foram concebidas pelo Departamento de Parques e Jardins (DPJ) de acordo com as diretrizes estabelecidas pela Semil. Outros parques receberão estruturas de centro cirúrgico móvel para otimizar o manejo e evitar o stress que seria gerado no embarque, transporte e desembarque dos animais, além de diminuir a possibilidade de dispersão de carrapatos e da própria bactéria causadora da febre maculosa.
As capivaras vivem em grupos, com uma estrutura social própria e, para evitar brigas e disputas por território, será manejado um grupo de animais por vez, independentemente do número de indivíduos. Os primeiros grupos que passarão pelo procedimento são os que vivem no Parque Taquaral, seguidos pelos do Lago do Café, Parque Ecológico e Parque das Águas.
Combate à febre maculosa
A Administração Municipal aposta na esterilização das capivaras como técnica auxiliar para prevenir a transmissão da febre maculosa, que pode ocorrer quando um carrapato se alimenta do sangue de um animal infectado, como a capivara (entre outros), e depois pica uma pessoa. A capivara não transmite diretamente a doença às pessoas.
De acordo com Rodrigo Pires, do DPBEA, a medida pode ajudar a combater a transmissão da febre maculosa porque a capivara só transmite a Rickettsia uma vez na vida e se o grupo vivo for mantido no local, impedindo o nascimento de novos indivíduos, em algum momento, não haverá novas capivaras dando sequência ao ciclo da bactéria. “Ao impedir o nascimento de novos indivíduos, a médio prazo, o ciclo de transmissão da bactéria causadora da doença deve ser interrompido”, afirma Pires.
Além de evitar novos nascimentos, a ação visa também dificultar a entrada de novas capivaras nos parques.
Febre maculosa
Em 2022 foram confirmados 11 casos de febre maculosa em Campinas, sendo nove delas com transmissão no município. Houve registro de sete mortes. No ano passado, foram 10 casos confirmados, nove com transmissão no município e também com sete óbitos. Em 2024, até o momento, há dois casos registrados, com um óbito.
A Febre Maculosa Brasileira (FMB) é uma doença grave, com alta letalidade, causada pela bactéria Rickettsia rickettsii. A infecção se dá pela picada do carrapato-estrela (Amblyomma sculptum) infectado com a bactéria causadora da doença. O período de incubação, desde a picada do carrapato até a manifestação dos sintomas, é de 2 a 14 dias.
O carrapato vetor está presente em áreas com vegetação, especialmente onde há presença de capivaras, cavalos ou outros animais silvestres. Eles infestam principalmente capins, gramados e acúmulos de folhas secas caídas. Nesses locais há intensa associação entre o ambiente e o carrapato vetor; quando os seres humanos frequentam ambientes com a presença do carrapato-estrela infectado a transmissão da FMB pode ocorrer.
A Secretaria Municipal de Saúde mantém um banner no Portal da Prefeitura, disponível em https://campinas.sp.gov.br/sites/febremaculosa/inicio, em que estão disponíveis várias informações sobre a febre maculosa e tudo o que é preciso saber para proteção e saúde.
Capivaras
De acordo com a Semil, as capivaras são animais que se adaptam bem à presença humana. Seu ambiente preferido é área de várzea, onde há água, importante para regular a temperatura corporal e escapar dos predadores. Para se alimentar, fazem uso de gramíneas e produtos agrícolas, como cana-de-açúcar, milho, arroz, e outros.
Consideradas os maiores roedores do mundo, são criaturas sociáveis, vivem em grupos, com uma organização complexa, que contam com um líder. As fêmeas se reproduzem duas vezes ao ano e podem gerar de um a oito filhotes por gestação.