Alan Parsons compara rock dos anos 70 e 80 aos hits de agora: ‘Hoje, você faz tudo no telefone’


Ao G1, produtor de Pink Floyd e Beatles diz torcer para que instrumentos ‘verdadeiros’ voltem a ser usados pela ‘geração dos computadores’. Ele participa de live neste domingo. Quando Alan Parsons foi convidado para participar do SOS Rainforest Live, topou na hora por “acreditar na causa”. O evento, que acontece no domingo (21), a partir das 16h, vai arrecadar fundos para combater a Covid-19 nos povos indígenas e lutar contra o desmatamento nas florestas tropicais.
O produtor e músico londrino, de 71 anos, vai apresentar uma música tocada por ele, em um vídeo gravado na Colômbia. A programação deve durar três horas, com 40 artistas. Caetano Veloso, Milton Nascimento, Manu Chao, Iza, Anitta e Jorge Drexler estão na programação, falando ou cantando.
Ao lado de Sting, ele vai representar o rock britânico. Além do Alan Parsons Project, banda de rock progressivo, ele foi engenheiro de som no estúdio Abbey Road, de onde produziu álbuns dos Beatles e do Pink Floyd. “Eu venho de um tempo do rock n’ roll bem diferente dos tempos de hoje”, diz ele ao G1, por telefone.
“Os jovens de hoje querem ouvir artistas da idade deles, querem ouvir o tipo de efeitos que dominam as músicas do top 10. Mas eu vou continuar com o jeito que eu estou acostumado a fazer música: uma banda de grandes músicos interagindo, tocando juntos. A maioria dos sucessos de hoje é feita por uma ou duas pessoas. Esse não é o jeito que eu gosto de trabalhar. Eu gosto de trabalhar um grupo de pessoas.”
Parsons não se anima muito com as novas possibilidades tecnológicas de gravação. Ele fala das inovações com mais nostalgia do que empolgação. “Todo mundo pode produzir. Quando eu comecei, você tinha que ir a um estúdio profissional para fazer um disco. Hoje, você usa um laptop ou você faz tudo no telefone”, diz, rindo.
“Mas tudo isso é uma questão de gosto. Eu ainda penso que daqui a 10 anos a geração dos computadores, que têm estúdios nos quartos, vai mudar, talvez vai voltar ao baixo verdadeiro, à bateria verdadeira, à guitarra de verdade, sabe? Torço pra que isso aconteça. Seria como uma volta ao ponto de partida, ao jeito antigo de fazer álbuns.”
Novo álbum após 15 anos
Alan Parsons
Divulgação
Parsons ficou 15 anos sem lançar um álbum, mas acabou com o jejum no ano passado, quando saiu o disco “The Secret”. Ele conta que não se sentia motivado a gravar, mas acabou se empolgando ao entrar em um estúdio em Santa Barbara, onde mora, no estado americano da Califórnia.
“Eu senti que estava no ambiente perfeito pra isso, com os equipamentos certos, as condições certas”, explica o músico. “Comecei a escrever as canções, criar um conceito para o álbum. São músicas que têm mais a ver com o Alan Parsons Project, são mais tradicionais do que o disco anterior, que era muito mais experimental, eletrônico.”
Memórias de Abbey Road
Quando operava a mesa de som em Abbey Road, será que ele tinha noção da importância daquele momento, daquelas gravações? Ou era só um trabalho?
“Eu, com certeza, não fazia ideia de que ainda estaria falando sobre Pink Floyd quase 50 anos depois”, responde ele. “Mas a gente foi percebendo que tinha uma força naquele nosso trabalho, que seria um grande álbum. A gente imaginou que faria sucesso, mas não depois de 50 anos.”
“Eu estava trabalhando com os Beatles, então eu sabia que tudo aquilo seria um sucesso gigante. Eu aprendi muito naqueles dias. Eu entendi como eles trabalhavam juntos, como eles interagiam.”
Mas as duas principais bandas com as quais trabalhou não faziam música da mesma forma, é claro. “Com o Pink Floyd, foi um pouco diferente, porque eles muitas vezes trabalhavam improvisando muito. Muita gente pensa que as músicas do ‘Dark Side of the Moon’ chegaram no estúdio prontas para serem gravadas. Mas, na verdade, eles iam tocando e criando as músicas.”