Entidade também divulgou relatório anual de saúde no mundo nesta quarta-feira (13), que mostra que as pessoas estão vivendo mais e de forma mais saudável, mas a pandemia ameaça cumprimento de objetivos de saúde. 13 de maio: clientes usam máscaras contra a Covid-19 em um supermercado em Moscou, na Rússia.
Alexander Nemenov/AFP
A Organização Mundial de Saúde (OMS) reforçou, nesta quarta-feira (13), que ainda há um “longo caminho” até o fim da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. A entidade foi questionada sobre o protocolo para “desfazer” o alarme de pandemia ao redor do mundo, declarado no dia 11 de março.
“É muito difícil prever quando vamos prevalecer sobre o vírus”, disse o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan. “E pode ser que nunca aconteça. Pode ser que nunca desapareça, que se torne endêmico, como outros vírus. O HIV não desapareceu”, lembrou.
“Nós passamos a lidar com o vírus, e achamos os tratamentos, achamos os métodos de prevenção, e as pessoas não sentem tanto medo como sentiam antes. Oferecemos vidas longas e saudáveis a pessoas com HIV”, disse. “Não estou comparando as duas doenças, mas é importante sermos realistas”.
“Não acho que ninguém pode prever quando ou se essa doença vai desaparecer. Nós temos uma grande esperança: se acharmos uma vacina altamente eficaz, que possamos distribuir para todos os que precisam no mundo, podemos ter uma chance de eliminar o vírus”, declarou Ryan.
Mas a implementação da vacina terá que passar por algumas etapas, explicou. Além de eficaz e disponível a todos, as pessoas terão que usá-la.
“Antes de começarmos a responder a essa pandemia no dia 31 de dezembro, tínhamos equipes no Pacífico Ocidental trabalhando com sarampo. Eu acho que havia 14 ventiladores [mecânicos] na Samoa Ocidental naquela época. E todos os 14 estavam ocupados por crianças pequenas. E estavam ocupados por crianças pequenas que tinham uma doença devastadora: se chamava sarampo. E elas não eram vacinadas contra essa doença.” – Michael Ryan, diretor de emergências da OMS
Michael Ryan, diretor-executivo do programa de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS)
Christopher Black/OMS
(Em fevereiro deste ano, um bebê morreu de sarampo no Rio de Janeiro, depois de 20 anos sem uma morte pela doença no estado. No mesmo mês, o Brasil perdeu o certificado de erradicação da doença).
“Desculpem-me se sou cínico”, continuou Ryan. “Mas temos vacinas perfeitamente eficazes neste planeta que não usamos de forma eficiente. Para doenças que poderíamos eliminar e erradicar – e nós não fizemos isso. Nós não tivemos vontade, a determinação para investir em sistemas de saúde para fornecer isso. Nós não tivemos a capacidade de sustentar cuidados de saúde na linha de frente”, disse.
“Dessa forma”, afirmou, “a ciência pode achar uma vacina. Mas alguém tem que fabricá-la em quantidade suficiente para todos receberem uma dose, temos que ser capazes de entregá-la e as pessoas têm que querer tomar essa vacina”, lembrou.
“Todos esses passos são cheios de desafios. É uma oportunidade imensa para o mundo. A ideia de que uma nova doença pode surgir, causar uma pandemia e nós podemos, com uma ambição enorme, achar uma vacina e dá-la a todos que precisam e parar a doença pode tornar, talvez, o que tem sido uma pandemia trágica em uma luz de esperança para o futuro do nosso planeta na forma com que cuidamos de nossos cidadãos e trabalhamos juntos para resolver nossos problemas, por meio de solidariedade, confiança, trabalho conjunto e um sistema multilateral que possa beneficiar a humanidade”, declarou.
“Não há promessas nisso, e não há datas”, disse Ryan. “Essa doença pode se tornar um problema de longo prazo, e pode não ser. De algumas formas, nós temos controle sobre esse futuro. Mas vai ser necessário um esforço imenso para fazer isso.”
A OMS já havia alertado, há cerca de 20 dias, que o novo coronavírus (Sars-CoV-2) ainda demoraria para ser vencido. O diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, reforçou, ainda, que a doença foi declarada uma “emergência de saúde internacional”, o nível mais alto de alerta da OMS, no dia 30 de janeiro.
Saúde no mundo
13 de maio: funcionários da linha de frente do combate ao coronavírus de um hospital em Oceanside, Nova York, observam parada de veículos feita em homenagem aos profissionais de saúde.
Timothy A. Clary/AFP
A OMS também divulgou, nesta quarta, seu relatório anual sobre a saúde no mundo. O documento destaca que, apesar de o mundo estar vivendo mais e de forma mais saudável, a pandemia ameaça o cumprimento dos objetivos de saúde estabelecidos, que já progredia de forma lenta.
Segundo o documento, aumentou a expectativa de vida no mundo, ainda que de forma desigual. Os maiores ganhos foram em países de baixa renda, onde a expectativa de vida aumentou 11 anos entre 2000 e 2016. Nos países de alta renda, esse aumento foi de 3 anos.
Um dos motivos para o progresso nos países de baixa renda foi a melhora no acesso a serviços para prevenir e tratar HIV, malária, tuberculose e doenças tropicais negligenciadas, como verminoses. Outra razão foi a melhora nos cuidados de saúde para crianças e mães, o que fez cair pela metade a mortalidade infantil no mundo entre 2000 e 2018.
Homenagem a profissionais de saúde
12 de maio: profissionais de saúde fazem homenagem a colegas que perderam a vida tratando pacientes de Covid-19 em frente ao Hospital das Clínicas da USP, em São Paulo.
Nelson Almeida/AFP
Tedros, Ryan e a líder técnica de emergências da entidade, Maria van Kerkhove, também pediram um minuto de silêncio em homenagem a todos os profissionais de saúde que perderam a vida tratando pacientes.
Os especialistas também agradeceram a profissionais de enfermagem – a segunda-feira (12) marcou o dia internacional da profissão.
Dia Internacional do Enfermeiro homenageia mulher que virou referência na profissão