Mapeamento aponta 266 casos de exploração infantil para tráfico de drogas em Piracicaba


Levantamento foi feito com base em atendimentos de serviços socioassistenciais e questionários respondidos por estudantes. Dos ouvidos, 2,3 mil estão expostos a algum tipo de trabalho. Pesquisa mapeia locais com maior incidência de trabalho infantil em Piracicaba
Um diagnóstico feito em Piracicaba (SP) aponta que ao menos 266 crianças e adolescentes foram exploradas pelo tráfico de drogas na cidade em 2019. O estudo também aponta que ao menos 2,3 mil menores estão expostos a algum tipo de trabalho.
O relatório foi feito por meio de uma parceria entre o Instituto Formar e a prefeitura, como parte do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (Peti).
Entre as fontes do estudo estão dados colhidos em serviços socioassistenciais na cidade. Eles apontam que a maior incidência é nas regiões norte e sul e que o tipo de trabalho mais presente nos resultados é o tráfico de drogas.
Em 2019, dos atendimentos realizados pela assistência, além dos casos envolvendo venda de entorpecentes, outros 67 foram relacionados a outros tipos de trabalho, como lava-rápido (13), construção civil (11), borracharia (7), exploração sexual (5).
A região sul, que abrange os bairros Pauliceia, Água Branca, Monte Líbano e imediações, também é citada com alta incidência de trabalho infantil.
Pesquisa foi realizada por meio de dados de assistência social e questionário respondido pelos jovens
Reprodução/ EPTV
A equipe Peti também viabilizou a aplicação de um questionário do Ministério Público do Trabalho nas escolas estaduais com crianças e adolescentes de 9 a 15 anos. O questionário foi aplicado em 48 escolas da rede estadual e 7.169 estudantes responderam as perguntas, o que representa 23,21% do número de matriculados na rede pública estadual.
Desses, 2.397 indicaram estar expostos a algum tipo de trabalho, o que representa mais de um terço dos entrevistados. O questionário foi respondido sem identificação das crianças e adolescentes.
Os resultados mostram que os trabalhos mais apontados pelos estudantes foram de babá ou cuidador de crianças (947), ajudante de cozinha (477), seguido de trabalho em empresa da família (465), obra (328) e buffet infantil (252).
Lava-rápido, construção civil, borracharia e exploração sexual são outras formas de trabalho infantil em Piracicaba
Reprodução/ EPTV
Tráfico
Os dados mostram que as regiões norte e sul da cidade são as que têm maior incidência. É o caso de um jovem, que preferiu não se identificar. Ele diz que teve dificuldades para encontrar emprego e aceitou trabalhar para o tráfico no bairro Santa Terezinha, região norte.
Tinha até turno: das 8h às 16h. “Ou você escolhe pegar o dinheiro ou a droga. Mas eu, como eu usava todo dia, né, eu pegava a droga. Eu ficava de manhã, às vezes até à noite, usando droga”.
“Cerca de 90% dos residentes nossos, que a gente recebe, a sua grande maioria começou o uso de drogas na adolescência ou até na infância e passa a vender a droga para seu próprio uso”, revela Claudia Antonele, presidente da Casa Dia, de Piracicaba.
“Uma das piores formas de trabalho infantil é o tráfico, muitos não identificam o tráfico como uma forma de trabalho infantil, porque é um trabalho invisível, ilícito, as pessoas acabam não denunciando, mas infelizmente isso aparece e acomete muitos dos nossos adolescentes”, explica a psicóloga e técnica de trabalho infantil Natalia Srair.
Alarmante
Para a secretária de Assistência Social e Desenvolvimento, Fabiane Fischer Gomes Oliveira, o número é “alarmante”.
“Uma vez que a pessoa emprega um menor, ela está perpetuando a desigualdade social. Então, é papel da secretaria e esse tipo de relatório nos ajuda e é um norte para que a gente haja no lugar certo e com maior eficiência”, afirma.
A secretária também disse que há ações de fiscalização em Piracicaba e que a população pode ajudar denunciando casos de trabalho infantil pelo Disque 100.
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