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Vanuatu, o país sempre à beira do desastre que é um dos mais felizes do mundo


Apesar de vulnerável a desastres naturais, este pequeno arquipélago do Pacífico Sul parece ter encontrado a fórmula da felicidade. Membros das comunidades locais garantem que são felizes por não depender de dinheiro.
Bill Code
O país mais vulnerável a desastres naturais do mundo fica no meio do Oceano Pacífico – e ao contrário do que você possa imaginar, é também um dos lugares mais felizes do planeta.
Vanuatu, um país em forma de estilingue formado por mais de 80 ilhas, a quase 2.000 km a leste da Austrália, está entre as quatro nações mais felizes do mundo – sendo a mais feliz fora das Américas –, de acordo com o Happy Planet Index.
O ranking, publicado pela New Economics Foundation, leva em consideração o bem-estar, a expectativa de vida e os níveis de desigualdade de um país, além de seu impacto no meio ambiente.
Mas, afinal, o que faz desta pequena nação tão feliz?
‘Não dependemos do dinheiro’
Desde sua independência do domínio anglo-francês em 1980, todas as terras em Vanuatu pertencem ao povo nativo do arquipélago — chamado Ni Vanuatu — e não podem ser vendidas a estrangeiros.
Uma pesquisa de 2011 realizada pelo Escritório Nacional de Estatística de Vanuatu (VNSO, na sigla em inglês) indicava que as pessoas com acesso à terra são, em média, mais felizes do que aquelas sem.
Hoje, cerca de 75% dos 298 mil habitantes do país vivem em zonas rurais, e mais de 90% dos ilhéus têm acesso a terras onde podem viver e cultivar seus alimentos.
Kalulu Taripoawia, líder de uma das comunidades locais, conta que a tradição prevê que a população trabalhe nos campos desde pequena.
“Isso nos permite comer. E somos felizes quando estamos cultivando nossa própria terra”, diz.
A mesma pesquisa constatou que mercadorias como porcos, inhame e kava (tipo de planta nativa do Pacífico Sul indicada para aliviar o estresse e combater a ansiedade) são facilmente acessíveis na base do escambo em Vanuatu.
“Nós não dependemos muito do dinheiro. Em outros países, a maioria depende de dinheiro. E quando o dinheiro acaba, as pessoas ficam aflitas”, analisa Sero Kuatonga, um dos artistas de Vanuatu.
Outra fonte de felicidade é a forte conexão dos ilhéus com as tradições e a paisagem diversificada do arquipélago, repleta de montanhas rochosas e recifes de coral.
“Tradicionalmente, somos um povo que cuida do meio ambiente. A felicidade é apenas uma consequência de quão respeitosos somos com a natureza, em como gerenciamos a terra, em como gerenciamos a água”, afirma Marcel Merthelorong, romancista local.
Vanuatu significa “nossa terra para sempre” em muitas das 139 línguas nativas faladas pelo povo local – o que faz do país uma das nações mais ricas do ponto de vista linguístico do mundo.
“Vanuatu ainda mantém suas línguas e todas as suas tradições. Seu idioma e sua cultura estão relacionados. Por meio da língua, eles ensinam sobre a vida nas aldeias”, diz Kuatonga.
“É por isso que as pessoas em Vanuatu são felizes, não porque têm uma casa bonita.”
As línguas nativas são o principal idioma falado por 92% do povo – e a grande maioria da população tem uma compreensão forte ou moderada dos ciclos de plantio, da história de seus ancestrais e da importância da flora e fauna locais.
No entanto, este país ainda enfrenta vários desafios. Situado no Anel de Fogo do Pacífico, Vanuatu é altamente vulnerável a desastres naturais. Nos últimos anos, suas ilhas foram ameaçadas pelo aumento do nível do mar e pelas mudanças climáticas.
O fato é que o arquipélago é considerado o país com maior risco de sofrer desastres naturais no mundo, de acordo com o World Risk Report 2018 (Relatório de Risco Mundial 2018, em tradução livre).
Em 2015, o ciclone Pam devastou as ilhas arquipélago, deixando mais de 20 mortos e 75 mil pessoas desabrigadas. Mas, apesar de toda a destruição, os moradores começaram rapidamente a reconstruir as aldeias, demonstrando sua forte resiliência.
“Nós sobrevivemos ao ciclone Pam, de categoria 5. Temos vulcões ativos, ciclones, terremotos… Mas seguimos em frente, continuamos vivendo, é assim que nós somos. É assim que vivemos!”, resume Dorothy Hamish, da comunidade Tanoliu.